Salgado critica gestão da Funai durante crise de Covid entre indígenas isolados

Três anos após o surto de Covid-19 que afetou os indígenas Korubo de recente contato no Vale do Javari, a crítica de Sebastião Salgado, fotógrafo que documentou a etnia, ainda ressoa. Ele faleceu na última sexta-feira, aos 81 anos, e sua indignação em 2022 sobre a negligência estatal permanece atual.

Mais de 70% dos 103 Korubo testaram positivo para o coronavírus durante a pandemia, revelando a falta de proteção e vacinação adequada. Sem cobertura vacinal, o grupo enfrentou uma contaminação rápida, gerando preocupação entre autoridades sanitárias. O governo de Jair Bolsonaro foi marcado por um desmonte de órgãos de proteção aos povos indígenas, como a Funai, que, segundo Salgado, falhou em proteger um grupo vulnerável.

Em entrevista ao GLOBO, Salgado afirmou que a Funai foi responsável pela contaminação. Ele destacou que a política indigenista da época refletia um comportamento negacionista. O Ministério Público Federal notificou o Supremo Tribunal Federal sobre as falhas no controle de entrada e saída de pessoas na região, alertando para o risco de transmissão do vírus a outros Korubo ainda mais vulneráveis.

A contaminação expôs brechas nas barreiras sanitárias estabelecidas pela ADPF 709, que exigia medidas específicas de proteção aos povos indígenas. O acampamento de Coari, onde vivem Korubo recém-contatados, foi identificado como área crítica, aumentando o risco de transmissão cruzada entre diferentes grupos da etnia. A falta de vacinação entre os indígenas isolados na região eleva a preocupação sobre uma possível tragédia silenciosa.