Cultura

Susan Sontag e a complexidade da fotografia de guerra em ‘Diante da dor dos outros’

A nova edição de "Diante da dor dos outros" de Susan Sontag provoca reflexão sobre a ética da fotografia de guerra e seu impacto na percepção do sofrimento humano.

Cena de “Sem chão”, vencedor do Oscar de melhor documentário: imagens da ocupação de Israel na Cisjordânia incomodaram a opinião pública (Foto: Divulgação)

Cena de “Sem chão”, vencedor do Oscar de melhor documentário: imagens da ocupação de Israel na Cisjordânia incomodaram a opinião pública (Foto: Divulgação)

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Nova edição de obra de Susan Sontag revisita ética da fotografia de guerra

Lançado originalmente em 2003, o livro “Diante da dor dos outros”, da autora Susan Sontag, ganha nova edição pela Companhia das Letras. A obra, que já teve sete reimpressões, reflete sobre os aspectos éticos da fotografia e da guerra, com um projeto gráfico renovado. O preço da edição é de R$ 74,90.

O lançamento ocorre em um momento de intensa cobertura fotográfica de conflitos como a invasão russa na Ucrânia e a guerra entre israelenses e palestinos em Gaza. As reflexões de Sontag auxiliam na compreensão da complexidade e da fragmentação da realidade contemporânea.

Em 1922, o jornalista Walter Lippmann já observava a autoridade crescente das fotografias sobre a imaginação humana. No entanto, Sontag aponta a ambiguidade das imagens, que podem ser interpretadas de diferentes maneiras, dependendo do contexto. Uma foto antiguerra, sem o devido contexto, pode ser vista como propaganda de heroísmo militar.

A autora revisita conceitos apresentados em sua obra “Ensaios sobre a fotografia”, da década de 1970. Naquela época, Sontag criticava o fotojornalismo de guerra, considerando os fotógrafos como "voyeurs covardes". Em “Diante da dor dos outros”, ela reconhece o fotojornalismo como uma ferramenta para dar voz às vítimas e permitir que elas controlem, ainda que parcialmente, suas próprias narrativas.

Sontag argumenta que o cinismo diante das fotos de conflitos decorre do privilégio de classe e da falta de contato direto com o sofrimento. Ela critica a postura de intelectuais que, distantes da realidade, fazem declarações sobre a "morte da realidade" e a "sociedade do espetáculo".

A autora defende que não há nada de errado em experimentar à distância o sofrimento alheio, desde que haja uma análise intelectualmente responsável. Ela alerta para o sequestro da fotografia por uma lógica binária, que a condena tanto pela exploração da brutalidade quanto pela busca de beleza na imagem.

A obra também estabelece paralelos entre a iconografia do sofrimento nas narrativas religiosas ocidentais e o fotojornalismo de guerra, citando exemplos como a "Pietà" e a "Descida da Cruz". Para Sontag, representar o sofrimento humano é um lembrete da capacidade de crueldade e degradação moral da humanidade.

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