Jovens se tornam iscas de mosquitos para combater cegueira causada por doença

A Luta Contra a Oncocercose na Nigéria

A oncocercose, conhecida como "cegueira dos rios", é uma doença tropical negligenciada que afeta milhões de pessoas na África e no Iémen. Na Nigéria, cerca de 40 milhões de pessoas estão em risco, com 120 mil casos de cegueira associados à doença. Bosede Oluwaokere, uma voluntária de 48 anos, captura borrachudos, os mosquitos transmissores, em um riacho próximo à sua casa em Ilorin, contribuindo para a pesquisa sobre a doença.

O trabalho de Oluwaokere, que se dedica a essa atividade duas vezes por semana, envolve seis horas de espera sob uma árvore, onde ela utiliza um tubo de plástico para capturar os insetos. Essa técnica, chamada de "captura de pouso humana", é considerada o "padrão ouro" pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os borrachudos transmitem o parasita Onchocerca volvulus, que pode levar à cegueira permanente.

Desafios Éticos e Alternativas

Embora Oluwaokere afirme que ama ajudar sua comunidade, o uso de humanos como iscas para capturar mosquitos levanta preocupações éticas. Louise Hamill, da ONG Sightsavers, destaca os riscos envolvidos, como picadas de borrachudos e exposição a outras doenças. Além disso, a prática pode expor os voluntários a perigos como cobras e condições climáticas adversas.

Para reduzir a dependência de humanos na coleta de borrachudos, a OMS e a Sightsavers estão desenvolvendo novas armadilhas de janela Esperanza (EWT). Essas armadilhas, que utilizam atrativos como dióxido de carbono e odores humanos, têm mostrado resultados promissores em estudos na África. A Dra. Maria Rebollo Polo, da OMS, enfatiza que a atração dos humanos pelos mosquitos é difícil de replicar, tornando a técnica de captura humana ainda necessária.

O Papel do Tratamento Preventivo

A OMS recomenda a administração em massa de medicamentos (MDA) para combater a oncocercose, com o tratamento doado pela farmacêutica Merck. Este método visa interromper a transmissão da doença, e a meta é capturar 6 mil borrachudos na Nigéria para análise. Após várias rodadas de MDA, testes são realizados para verificar se a doença pode ser considerada eliminada.

Oluwaokere e sua colega, Olamilekan Adekeye, de 26 anos, expressam gratidão por contribuir para a saúde pública, mas ambas desejam que a compensação financeira pelo trabalho seja maior. Adekeye, que também possui outras fontes de renda, destaca que o valor recebido é insuficiente, mas a motivação para ajudar a comunidade é o que as impulsiona.