23 de fev 2025
Itamaraty espionou 17 mil pessoas durante a ditadura, revelam pesquisadores
O Itamaraty monitorou 17 mil pessoas entre 1966 e 1986, revelam telegramas. O Centro de Informações do Exterior (Ciex) colaborou com regimes autoritários. Pesquisadores da FGV e USP compilaram dados inéditos em 14 meses de trabalho. Documentos mostram infiltrações em exílios e vigilância de líderes opositores. A base de dados Lats analisa padrões de repressão e resistência no exterior.
O Palácio do Itamaraty, em Brasília (Foto: Brenno Carvalho/O Globo)
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O Itamaraty monitorou mais de 17 mil brasileiros e estrangeiros no exterior durante a ditadura militar por meio do Centro de Informações do Exterior (Ciex), uma divisão clandestina de espionagem. Essa informação foi revelada por 8.330 telegramas secretos que orientaram o rastreamento de opositores entre 1966 e 1986. Os dados foram compilados por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Universidade de São Paulo (USP) e de outras instituições, em um esforço que durou 14 meses. O acervo, chamado de Latin American Transnational Surveillance (Lats), está disponível para consulta.
Os documentos desmistificam a imagem do Itamaraty como uma entidade civilizada durante a ditadura, já que a existência do Ciex nunca foi formalmente reconhecida. A pesquisa revelou que apenas 30% dos monitorados eram brasileiros, e os exilados eram frequentemente rotulados como “subversivos” ou “revolucionários”. Segundo Matias Spektor, professor da FGV, a prioridade do Ciex era acompanhar laços e movimentos de opositores, identificando apoios externos à luta armada no Brasil.
Os agentes do Ciex infiltraram-se em residências de exilados, coletando informações sobre suas interações e atividades. O ex-governador Leonel Brizola foi um dos mais vigiados, com relatórios detalhando suas reuniões e estratégias políticas. Em um telegrama de 1966, foi mencionado que Brizola discutiu candidaturas contra a ditadura, enquanto outro documento de 1970 revelava relações pessoais de militantes monitorados.
A atuação do Ciex intensificou-se em 1968, ano marcado pelo AI-5, quando o regime endureceu. A vigilância se estendeu além da América Latina, alcançando países como Portugal e França, onde muitos brasileiros estavam exilados. A base de dados Lats sistematiza informações sobre os monitorados, garantindo anonimato para proteger vítimas da repressão. Os relatórios do Ciex estão disponíveis no Arquivo Nacional, permitindo um acesso mais amplo a essa parte da história.
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