02 de jul 2025

Quilombolas enfrentam isolamento devido a fazendas no Tocantins
Comunidades quilombolas no Tocantins enfrentam grave crise com avanço do agronegócio, desmatamento e conflitos fundiários.

Tatiana Merlino (Foto: Reprodução)
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As comunidades quilombolas no Tocantins, como a de Baião, enfrentam uma grave crise devido à falta de titulação de suas terras. A maioria dessas comunidades ainda não possui reconhecimento formal, o que as torna vulneráveis a invasões e conflitos fundiários. Recentemente, a situação se agravou com o avanço do agronegócio, resultando em desmatamento, escassez de água e ameaças aos moradores.
Siran Nunes de Souza, morador de Baião, relembra sua infância marcada pela abundância de frutos do Cerrado. "Quando a gente vê esse deserto que eles abriram, dá vontade de chorar," lamenta Siran, referindo-se ao desmatamento que transformou a paisagem. A comunidade, uma das quatro na região, agora se sente cercada por fazendas que exploram a terra para a produção de soja e gado.
O engenheiro agrônomo Laelson Ribeiro de Souza, também quilombola, destaca que a comunidade se tornou uma "ilha" em meio ao agronegócio. "Hoje, somos arrodeados de fazendas e desmatamento," afirma. O avanço do agronegócio no Tocantins, especialmente no território do Matopiba, tem gerado impactos significativos, com 74% do desmatamento no Cerrado ocorrendo nessa área em 2023.
A luta pela titulação das terras quilombolas é longa e marcada por morosidade. Apenas um dos 53 territórios quilombolas do Tocantins está titulado, enquanto o processo de reconhecimento de Baião está paralisado desde 2011. A falta de ação do governo tem levado a um aumento das invasões e à degradação ambiental, afetando diretamente a vida dos moradores.
Os quilombolas relatam que a escassez de água e a poluição dos rios, agravadas pelo desmatamento e pela mineração, têm impactado suas práticas tradicionais de subsistência. "Não dá pra consumir, tomar banho. A gente entende que é um rio poluído," diz Laelson, referindo-se ao rio Manuel Alves. A situação se torna ainda mais crítica com a presença de fazendeiros que invadem suas terras, levando a conflitos e ameaças.
A resistência das comunidades quilombolas é constante, mas a falta de titulação e a pressão do agronegócio continuam a ameaçar sua existência. "Estamos sendo esmagados pelos correntões," conclui Siran, refletindo a luta diária por reconhecimento e direitos.
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