Mais de 60 mil desaparecidos na Ucrânia desafiam processo de paz e direitos humanos

A complexidade da situação dos prisioneiros ucranianos, incluindo civis, é um dos pontos centrais da fórmula de paz apresentada por Volodímir Zelenski em novembro de 2022. O presidente ucraniano enfatizou a necessidade de libertar todos os prisioneiros, mas enfrenta desafios significativos, como a falta de um número definitivo de detidos. Em 3 de fevereiro, Artur Dobroserdov, comissionado para o Ministério do Interior da Ucrânia, revelou que 62.948 pessoas estão registradas como desaparecidas, incluindo civis e militares.

A localização exata desses prisioneiros é incerta, com muitos possivelmente detidos em território ucraniano ocupado ou na Rússia. O acesso a registros de desaparecidos é limitado, dificultando a identificação. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) documentou cerca de 46.200 cidadãos em paradero desconhecido, com seu porta-voz, Patrick Griffiths, afirmando que isso pode ser apenas a "punta do iceberg". Entre os desaparecidos está Mariano García Calatayud, um espanhol de 76 anos, que foi preso em março de 2022 e cujo paradeiro é desconhecido desde dezembro de 2023.

O Centro de Liberdades Civis (CLC), premiado com o Nobel da Paz em 2022, reporta que 16.000 civis estão desaparecidos desde a invasão russa. A prática atual de troca de prisioneiros favorece os militares, deixando os civis de fora, o que pode ser usado por Moscou em futuras negociações. Recentemente, a Ucrânia conseguiu resgatar 150 militares, enquanto a Rússia fez o mesmo com seus prisioneiros, totalizando mais de 4.000 soldados ucranianos liberados.

A situação das crianças é particularmente alarmante, com autoridades ucranianas considerando 20.000 menores como sequestrados. Embora apenas 1.042 tenham sido recuperados, a Rússia entregou recentemente oito crianças à Ucrânia, uma ação vista como insuficiente. O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra Vladimir Putin por suposta deportação forçada de menores, evidenciando a gravidade da situação. Pesquisas indicam que 314 crianças podem ter sido incluídas em programas de adoção na Rússia, com 67 já recebendo cidadania russa, sugerindo que os números reais podem ser ainda maiores.