09 de fev 2025
Eunice Paiva e as mães brasileiras que buscam seus filhos desaparecidos
O filme "Ainda estou aqui" retrata a dor de Eunice Paiva, esposa de desaparecido. Brasil tem mais de 80 mil desaparecimentos em 2023, refletindo crise de segurança. Mães relatam experiências de busca por filhos, vítimas de violência e crime organizado. Criminalização do desaparecimento forçado é debatida, mas projeto de lei está parado. Promotoras defendem que desaparecimento forçado deve ser tratado como crime grave.
header-eunices-brasil (Foto: Arte O GLOBO)
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Em uma cena marcante do filme “Ainda estou aqui”, Eunice Paiva se encontra em uma sorveteria com suas filhas, logo após receber a notícia do possível falecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar. A busca por normalidade em meio à dor é um reflexo da luta de muitas famílias de desaparecidos no Brasil, que em 2023 registrou mais de 80 mil casos de desaparecimentos, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Muitas dessas famílias enfrentam doenças e dedicam suas vidas à busca por respostas, mantendo a esperança de que seus entes queridos ainda estejam vivos.
A filha mais velha de Eunice, Vera Paiva, descreveu a indicação do filme ao Oscar como uma “reparação” para a dor vivida por sua família e por milhares de outras durante a ditadura. Vera dedicou os prêmios conquistados a todas as mulheres que, como sua mãe, continuam a sofrer com a perda de seus maridos, filhos ou netos. O Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid) revela que a maioria dos desaparecidos no Brasil são homens pardos entre 12 e 17 anos, com as principais causas sendo dependência química e problemas psiquiátricos, além da violência urbana, que complica ainda mais a resolução dos casos.
A promotora Eliana Vendramini, coordenadora do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos, destaca que o Código Penal não reconhece o crime de desaparecimento forçado, tratando-o como sequestro, cuja pena é branda. Um projeto de lei sobre o tema está parado no Congresso desde 2013. A procuradora Patrícia Carvão defende a necessidade de melhorar as investigações para esclarecer os casos de desaparecidos, especialmente os relacionados à violência urbana, e enfatiza a importância de recuperar os corpos para dar um fechamento às famílias.
Relatos de mães que buscam seus filhos desaparecidos revelam a dor e a luta diária. Lucineide, mãe de Felipe, desaparecido em 2008, descreve como a busca a desestruturou. G., mãe de Jonathan, desaparecido em 2017, relata a falta de apoio das autoridades e a constante sensação de medo. Rute Fiúza, que perdeu seu filho Davi em 2014, também enfrenta a dor da incerteza, enquanto a Justiça avança lentamente. A história de João Rafael, sequestrado em 2013, e de Joel Vasconcelos, desaparecido em 1971, exemplificam a luta contínua por justiça e respostas, com familiares buscando incansavelmente por seus entes queridos e por um reconhecimento do Estado sobre as atrocidades cometidas.
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