29 de mai 2025

Mães negras e pobres enfrentam desafios na luta contra a fome e a obesidade
Cozinha solidária de Zenilda da Silva em São Paulo combate a insegurança alimentar e reflete a luta de mães na periferia por alimentação saudável.
Foto:Reprodução
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Zenilda da Silva, uma mulher negra e pobre, fundou uma cozinha solidária no Jardim São Luís, em São Paulo, para enfrentar a insegurança alimentar. Sua história reflete a luta de muitas mães na periferia, que buscam garantir uma alimentação saudável para seus filhos em meio a dificuldades socioeconômicas.
A trajetória de Zenilda é marcada por memórias dolorosas da infância em Pernambuco, onde enfrentou a fome e a violência. Hoje, aos 44 anos e pesando 133 quilos, ela se sente presa em um corpo que não desejava. "As pessoas me rejeitam porque sou gorda, pobre e negra", afirma. Sua cozinha solidária se tornou uma fonte de esperança, oferecendo a única refeição garantida do dia.
O Brasil enfrenta uma epidemia de obesidade, com seis em cada dez brasileiros apresentando sobrepeso, e 24,3% deles são obesos, segundo dados do Vigitel. Este cenário é ainda mais grave entre populações vulneráveis, como mães negras e pobres, que muitas vezes são responsabilizadas pelas escolhas alimentares da família. A professora Daniela Canella, do Instituto de Nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, destaca que fatores como racismo e vulnerabilidade social contribuem para o aumento do peso nessa população.
O consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em gordura e açúcar, cresceu significativamente entre os mais pobres. Um estudo da USP revela que, entre 2008 e 2018, o consumo aumentou nos três quintos da população com menor renda. Para as famílias de baixa renda, a alimentação saudável é um luxo, e as opções se restringem a produtos baratos e pouco nutritivos.
A pediatra nutróloga Maria Paula de Albuquerque ressalta que a insegurança alimentar não é sinônimo de fome, mas sim a impossibilidade de fazer escolhas saudáveis. Muitas mulheres, como Zenilda, enfrentam a dura realidade de priorizar a alimentação dos filhos em detrimento da própria saúde. A desigualdade se reflete nos gastos com alimentação, que consomem uma parte significativa da renda das famílias mais pobres.
A Abia, Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, defende que o processamento de alimentos pode aumentar a disponibilidade de nutrientes. No entanto, a realidade das comunidades periféricas é marcada pela escassez de opções saudáveis, criando um ambiente "obesogênico". Para especialistas, a solução para a obesidade deve ser abordada por meio de políticas públicas, e não apenas como uma questão individual.
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