Aumento das alergias alimentares e respiratórias preocupa especialistas no Brasil

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até quarenta por cento da população global tenha alguma forma de alergia, um problema crescente que afeta tanto adultos quanto crianças. No Brasil, as internações por choque anafilático e as consultas a alergistas aumentaram significativamente nos últimos anos. Em 2024, foram registrados 1.143 casos de choque anafilático, um aumento de 107% em relação a 2015.

A diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Lucila Camargo Lopes de Oliveira, aponta que cerca de quatro por cento da população brasileira vive com alergia alimentar e trinta por cento com alergias respiratórias. Ela explica que as alergias são respostas exageradas do sistema imunológico a agentes externos. Além disso, fatores como alimentação ultraprocessada e poluição do ar podem agravar a situação.

Aumento das Consultas

Entre 2019 e 2022, o número de consultas a alergistas na rede privada cresceu 42,1%, totalizando três milhões de atendimentos. A alergista Carolina Aranda destaca que a prevalência de alergias alimentares e respiratórias tem aumentado, com novas práticas elevando o risco de desenvolvimento de alergias em crianças. Estudos mostram que crianças que convivem com animais têm menor incidência de alergias alimentares.

O fenômeno não é exclusivo do Brasil. No Reino Unido, admissões por anafilaxia alimentar triplicaram entre 1998 e 2018. A pesquisadora Theresa MacPhail ressalta que as mudanças no estilo de vida não foram acompanhadas pela evolução biológica do sistema imunológico, que ainda responde a um ambiente muito diferente do que existia há milênios.

Avanços no Tratamento

Apesar do aumento das alergias, a medicina avança em novas opções de tratamento. A terapia de dessensibilização oral, que tem mostrado resultados promissores em adultos, envolve a ingestão gradual do alimento alergênico. Um estudo recente do King's College London revelou que 67% dos participantes conseguiram consumir amendoim sem reações adversas após o tratamento.

Os especialistas alertam que a dessensibilização deve ser realizada por profissionais qualificados, devido aos riscos de reações graves. Além disso, novas abordagens, como adesivos e injeções, estão em desenvolvimento. Para alergias respiratórias, os anticorpos monoclonais têm se mostrado eficazes, embora o custo elevado limite o acesso.

Os avanços no tratamento oferecem esperança para muitos pacientes, especialmente crianças, que frequentemente apresentam melhora com o tempo. Lucila destaca que, embora haja predisposição genética, o sistema imunológico tende a se adaptar e a desenvolver tolerância com o passar dos anos.