23 de jun 2025

Rios do cerrado enfrentam redução de 27% no volume de água desde os anos 1970
Estudo revela que a vazão dos rios do cerrado caiu 27%, comprometendo a disponibilidade hídrica e a biodiversidade da região.

Canal utilizado para abastecer os pivôs de irrigação de uma grande fazenda, na zona rural de Correntina, no oeste da Bahia (Foto: Lalo de Almeida - 14.mar.24/Folhapress)
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O volume de água nos rios do cerrado brasileiro caiu 27% desde a década de 1970, conforme um estudo da Ambiental Media. A pesquisa, divulgada nesta segunda-feira (23), revela que a perda equivale a 30 piscinas olímpicas de água a cada minuto. A análise abrange dados da Agência Nacional de Águas (ANA) e foca em seis bacias hidrográficas: Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins.
Entre 1970 e 1979, a vazão mínima dos rios era de 4.742 m³/s, enquanto entre 2012 e 2021, esse número caiu para 3.444 m³/s. O estudo também aponta uma redução de 21% nas chuvas nas bacias, com precipitação média de 680 milímetros anuais no primeiro período, caindo para 539 milímetros no segundo. Além disso, a evapotranspiração aumentou 8%, indicando que o cerrado está enfrentando um processo de secagem.
Impactos do Desmatamento
O cerrado, que representa 25% do território nacional e abastece oito das doze regiões hidrográficas do Brasil, já perdeu mais da metade de sua vegetação original. O coordenador do estudo, Yuri Salmona, destaca que o desmatamento para a produção de commodities, especialmente soja, é o principal fator que contribui para a redução da vazão dos rios. Dados do MapBiomas indicam que a área de vegetação nativa nas bacias analisadas diminuiu 22% entre 1985 e 2022, enquanto a área desmatada para soja aumentou 19 vezes.
Salmonas enfatiza que 56% da redução da vazão dos rios é atribuída ao desmatamento, enquanto 43% se deve às mudanças climáticas. A pesquisa também revela que o período de chuvas no cerrado encurtou em média 56 dias, o que agrava a escassez hídrica na região.
Consequências para o Ecossistema
A bacia do rio São Francisco, que recebe 93% de suas águas do cerrado, registrou uma queda de 50% na vazão. As chuvas nessa bacia diminuíram 28%, enquanto a evapotranspiração aumentou 11%. O desmatamento para a soja na bacia do Parnaíba cresceu de sete hectares em 1985 para 1,6 milhão de hectares em 2022.
O estudo alerta que a degradação do cerrado pode comprometer a produção de alimentos e energia no Brasil, já que a usina hidrelétrica de Itaipu depende da água da bacia do Paraná. O governo federal retomou em novembro de 2023 o PPCerrado, uma política para conter a devastação do bioma, mas especialistas afirmam que ainda não há controle efetivo sobre o desmatamento.
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