26 de jun 2025

LCA se destaca como elo entre governo, agro e bancos no cenário econômico atual
A Letra de Crédito do Agronegócio assume liderança no financiamento rural, enquanto recursos públicos perdem espaço e geram preocupações sobre sustentabilidade.

Wenderson Araujo/Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
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O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que historicamente dependia de recursos públicos, enfrenta uma transformação significativa. Em 2025, a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) se tornou a principal fonte de financiamento rural, representando 43% do crédito, enquanto a participação de recursos públicos caiu drasticamente.
A LCA, criada em 2004, passou de uma participação de apenas 3% em 2015 para a liderança atual, refletindo uma mudança na dinâmica de financiamento. O crédito rural, antes sustentado por mecanismos governamentais, agora depende majoritariamente do mercado. Essa transição levanta preocupações sobre a sustentabilidade do financiamento agrícola, já que a LCA é vista como uma fonte instável e especulativa.
Os dados do Banco Central mostram que, em apenas cinco anos, o volume de aplicações em LCAs cresceu 380%, saltando de R$ 117 bilhões para R$ 559,94 bilhões. Essa mudança é impulsionada por uma combinação de esforços privados das instituições financeiras e ajustes regulatórios que aumentaram a obrigatoriedade de destinação de recursos da LCA para o crédito rural.
Impactos e Críticas
A crescente dependência da LCA levanta questões sobre a viabilidade do crédito rural. Especialistas alertam que a financeirização do crédito pode comprometer a oferta de produtos agrícolas, especialmente para pequenos produtores que não têm acesso a commodities de exportação. Sergio Pereira Leite, professor da UFRRJ, critica a instabilidade do sistema atual, afirmando que a mudança para fontes de financiamento de mercado pode resultar em endividamento para os agricultores.
Além disso, a proposta de taxação de 5% sobre os rendimentos das LCAs, prevista em uma medida provisória do governo, enfrenta resistência no Congresso. A Frente Parlamentar Agropecuária defende a manutenção da isenção fiscal e busca aumentar a participação da LCA no crédito rural, o que poderia agravar a já alta renúncia fiscal associada a esses títulos.
O Futuro do Crédito Rural
O SNCR, que completou 60 anos em 2025, está em um momento crítico de reavaliação. A mudança na origem dos recursos de financiamento pode impactar diretamente a política pública voltada para o setor agrícola. A dependência crescente do mercado privado para o crédito rural sugere uma nova era, onde as instituições financeiras têm maior liberdade para definir as condições de financiamento, muitas vezes em desacordo com as necessidades dos produtores.
A discussão sobre o papel do Estado no financiamento do agronegócio continua a ser um tema central, com vozes tanto a favor quanto contra a intervenção pública. O futuro do crédito rural no Brasil dependerá de como essas dinâmicas se desenrolarão nos próximos anos, especialmente em um cenário econômico volátil.
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